Homem, 57 anos, solteiro, analfabeto, carga horária inicial de 4 horas semanais, contratado em 2008, (CID10: F20.5).

Desconhecido o paradeiro de sua família de origem, além da real data de seu nascimento e registro civil (situação resolvida pela gestão do Instituto Municipal Nise da Silveira (IMNS/RJ), 2001/2009, estabelecendo datas “fictícias” para registros) esse funcionário, usuário atual do IMNS, permaneceu em instituições psiquiátricas a maior parte de sua vida.

Com diagnóstico "incapacitante", o que o caracterizava era a prática do silêncio, quase absoluto, na maneira de conduzir-se na vida. No entanto, ao ouvir sobre a possibilidade de ingressar num emprego por meio do Projeto Gerência de Trabalho (PGT), foi capaz de dirigir-se à coordenação do PGT com a seguinte fala: “Eu quero trabalhar”.

A partir de então, ele não só iniciou suas atividades de trabalho, como também passou a dar valiosas informações sobre sua vida pregressa, coisa que jamais havia feito.

Pois hoje ele está no seu nono ano de trabalho se comunicando e se socializando com muito mais desenvoltura com todas as pessoas de sua convivência diária.

Sobre sua remuneração, ela é compatível com as horas trabalhadas. Embora receba muito pouco, seu trabalho garante que ele possa convidar, todos os anos, seus companheiros de moradia (Residência Terapêutica) para comemorar seu aniversário em uma “pizzaria”.

Ainda que inicialmente tenha sido avaliado que esse funcionário não conseguiria aumentar sua carga horária inicial de trabalho, fomos surpreendidos com o “seu pedido” para aumentar em mais duas horas na semana.

A partir de 2016, ele passou a cumprir com 6 horas semanais a sua jornada de trabalho.



Product Image
Product Image

Mulher, 39 anos, solteira, Ensino Fundamental Incompleto, contratada em 2010, carga horária inicial: 4 horas semanais, (CID10: F29 + F89).

Surda do ouvido direito, e com apenas 10% de audição no esquerdo, R. sempre enfrentou dificuldades em se relacionar.

Embora tenha frequentado escola até a 5ª série do ensino fundamental I, não desenvolveu sua capacidade de comunicação e manteve-se isolada a maior parte de sua juventude. Aos 19 anos teve sua primeira “crise” psicótica e, de lá para cá, vem se tratando no Hospital Pinel/RJ.

Na sua entrevista de emprego, R. disse que nunca havia trabalhado, mas que gostaria muito dessa experiência para ter seu próprio dinheiro.

Iniciando suas atividades cumprindo apenas 4 horas semanais, hoje, mesmo enfrentando todas as suas dificuldades, R. trabalha horário integral e se mantem estável quanto às crises psicóticas.

Product Image

Homem; 45 anos; casado, Ensino Fundamental incompleto, carga horária de 30 horas semanais, contratado em 2009, (CID 10: F20).

Esse funcionário iniciou sua primeira experiência de trabalho formal com o projeto. Seu histórico psiquiátrico teve início aos 16 anos quando da perda de seus pais.

Sendo o segundo filho entre quatro irmãos, relata que não suportou essa perda e a família não soube dar suporte a ele. Desde então, iniciou sua peregrinação pelas ruas e por hospitais psiquiátricos.

Dentre elas, consta uma séria tentativa de suicídio quando, segundo ele mesmo, deitou-se ao chão, no meio da rua, esperando que um caminhão lhe atropelasse.

Nesta sua versão, ele afirma que “foi Deus quem impediu que morresse”, já que neste episódio o tal caminhão passou apenas por cima de seu braço, e nem esse ele perdeu.

Após esse incidente, por volta dos trinta anos, ele decidiu reiniciar seu tratamento, retomar seus estudos numa escola e voltar-se para a igreja.

Foi quando ele reiniciou seu tratamento, agora em um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que o acolheu e o ajudou a entender que era necessário tomar medicação mesmo quando não estivesse em “crise”.

Isto também o ajudou a retomar o contato com sua família de origem (seus irmãos). Do tempo dedicado à escola, teve a oportunidade de conhecer a sua atual esposa.

Essa época foi marcada pela estabilização da sua psicose e, contando com a experiência de estar novamente com uma família, tratamento e casado, faltava-lhe apenas conseguir um emprego para dar seguimento aos seus projetos.

Bastante desenvolto e plenamente capaz de aprender suas tarefas, S. iniciou suas atividades de trabalho como “auxiliar de operações” em março de 2009 em horário integral.

No entanto, em vista de algumas limitações (físicas e emocionais) que foram se impondo com tempo, fomos obrigados a reduzir seu horário (2011) para 30 horas semanais, condição para que ele pudesse se manter no emprego.

Ainda assim, vem desenvolvendo muito satisfatoriamente sua experiência de trabalho considerando ainda que no ano de 2009, chegou a ser premiado com um “diploma” de melhor funcionário do mês.

No seu primeiro período de aquisição de férias (abril de 2010), quando lhe foi perguntado, em entrevista, o que estava sendo a experiência de trabalho, ele nos diz: “Agora eu sou um cidadão. O que vale para os outros, vale para mim também".


Mulher, 49 anos, solteira, Ensino Fundamental completo, carga horária inicial: 4 horas semanais, contratada em 2010, (CID10: F20)

Abandonada pelos pais na infância, essa usuária foi primeiramente foi acolhida por uma instituição pública de atenção a menores (FEBEM) e após adolescência foi moradora de rua até ser novamente acolhida por um Abrigo público (Fundação Leão XVIII) onde reside até os dias de hoje.

No seu percurso na Fundação, teve duas filhas (entregues para adoção) e foi lá que identificaram sua psicose (quadro delirante e alucinatório) dando início ao tratamento psiquiátrico.

Embora tenha escolaridade e conseguido alguns empregos durante sua vida, não permaneceu em nenhum deles por mais de 5 meses. Nunca mais teve notícias das filhas e da família de origem. Na sua entrevista inicial de emprego disse: “Quando conseguir ficar no emprego, vou poder buscar minhas filhas...”.

Iniciando sua experiência de trabalho (2010) cumprindo apenas 4h semanais, hoje G. trabalha 30h semanais adquirindo uma autonomia jamais conquistada e se mantendo estável quanto às crises psicóticas. Embora já tenhamos advertido-a sobre a impossibilidade, ela continua com a esperança de reencontrar as suas filhas...



Product Image