O Emprego Apoiado (EA)

O Emprego Apoiado (EA) é uma metodologia, surgida nos EUA na década de 70, que visou oferecer condições e suporte para que pessoas com deficiência (PCD), severamente comprometidas, pudessem ingressar no mercado formal de trabalho de maneira responsável e competitiva.

No melhor entendimento de que “deficiência” não é sinônimo de “incapacidade”, o EA quer capacitar e investir no real potencial de trabalho de cada PCD para que este possa exercer sua cidadania por meio do trabalho formal. Da mesma forma, o EA oferece a oportunidade para que empresas possam investir em seu capital humano, atendendo à diversidade e sem prejuízo ao seu investimento empresarial.

Neste contexto, considerando o justo atendimento às demandas por ações consistentes de inclusão social e à capacitação das empresas para absorver a mão de obra de populações vulneráveis, o EA vai ter como foco de suas ações a avaliação de habilidades, a presunção de empregabilidade, o emprego competitivo e o devido suporte para que pessoas com deficiência possam obter e manter seus empregos.

Na sequência, as etapas a serem cumpridas pelo EA.

Considerando o interesse de cada PCD no emprego formal:



São realizadas entrevistas, baseadas na “customização de emprego”, com cada cliente PCD para a avaliação de interesses e aptidões para o trabalho. Nesse momento são colhidas informações para constarem em currículo a serem entregues para cada um deles e para que os gestores em EA possam estar em busca de postos de trabalho compatíveis.

Customizando um emprego



Para ilustrar como o processo de customização acontece, apresentar-se-á um exemplo apenas ilustrativo (com dados fictícios):

Um cliente, oriundo do sistema de educação especial, nos procura junto com sua mãe, pois deseja trabalhar. Porém nunca trabalhou e nem sabe como ingressar no mercado de trabalho, além de sentir-se inseguro e desencorajado a fazê-lo.

O primeiro passo nesse caso foi entrevistar o cliente e demais pessoas envolvidas em sua vida, as quais ele indique como fonte de informações relevantes. A partir das informações oriundas das entrevistas realizadas com ele, sua mãe e um representante da instituição de ensino (ou outra) a qual o cliente freqüentava pode-se averiguar que:

Interesses e preferências:

Aprecia o convívio social; adora ver televisão e ler gibis; ajuda o jornaleiro aos domingos arrumando as revistas e atendendo as pessoas. Gosta de ir com os amigos à praia, e jogar futebol de botão com sua avó. Vai a igreja com sua mãe. Gosta de cantar músicas no coral da igreja. Seu maior sonho atualmente é encontrar um trabalho onde possa estar em contato com pessoas.

Limitações:

Fala comprometida

Formação e experiência profissional:


O cliente aprende as novas tarefas através de demonstrações, e comandos verbais simples. Há cinco meses ele ajuda o jornaleiro do bairro aos domingos por três horas, recebendo uma quantia simbólica de 10 reais. Ele recepciona os clientes, organiza as revistas e jornais, recebe e dá o troco. O cliente está no programa de inclusão social de seu município, tendo terminado o ensino fundamental em escola especial.

Ele Gostaria de trabalhar em ambientes movimentados, onde tenha contato com pessoas.



Habilidades e competências:

Arruma sua própria cama, arruma a mesa para o café da manhã, vai à padaria sozinho a qual fica a cinco quarteirões de sua casa.

É bastante organizado, gosta de arrumar os armários de casa, principalmente a sapateira de sua mãe. Reconhece os números das casas, faz operações aritméticas simples (soma e subtração), sabe manejar dinheiro.



Necessidades de suporte e acomodações:

No trabalho voluntário no jornaleiro, as vezes precisa de uma calculadora para efetuar operações matemáticas mais complexas. Um ambiente de trabalho que não requeira o uso acelerado da fala.



Meios de transporte disponíveis:

Mora em bairro que conta com ônibus municipais e intermunicipais. Ele faz uso de sua bicicleta para ir visitar os avós que moram, a 05km de sua casa. Por meio de uma entrevista mais especifica, verificou-se que as atividades que o cliente poderia e gostaria de realizar em uma loja departamento seriam:



  1. Organizar e estocar os produtos
  2. Levantar caixas pesadas
  3. Localizar itens requeridos
  4. Colocar os itens nos locais adequados.

Portanto, alguns passos usados para encontrar uma combinação customizado para este cliente foram:



  1. Examinar cuidadosamente a região em que mora, procurando lojas que tenham atividades que combinem com as informações levantadas nas entrevistas.
  2. Conduzir entrevistas em lojas de venda
  3. Identificar áreas de dificuldades operacionais nas lojas

Entre todas as lojas visitadas destacamos uma loja de departamentos, onde foram observadas as seguintes situações em que o cliente poderia colaborar:



  1. O departamento de sapatos é uma bagunça - recebendo reclamações de clientes
  2. Os sapatos vindos do descarregamento são guardados no estoque
  3. Às vezes as mercadorias são postas à venda acidentalmente
  4. Embora não faça parte das atribuições dos representantes de serviço de atendimento aos consumidores, eles são postos para gerenciar o descarregamento dos sapatos.

Os próximos passos para customizar o emprego do cliente foram:



  1. Combinar as necessidades da loja com as habilidades do cliente e criar uma lista de tarefas refinada (atividades específicas que ele desempenhará)
  2. Conseguir uma "entrevista de emprego" para que o cliente possa demonstrar sua capacidade em realizar as atividades
  3. Negociar as horas, pagamento, obrigações, treinamento e produção.

Proposta da Loja:


Habilidades do cliente: Lista refinada de atividades:
Forte fisicamente. Receber e descarregar as entregas de sapatos
Reconhecimento de números Organizar os sapatos em categoria numeral
Gosta de estar em movimento Colocar os sapatos nas estantes apropriadas
no andar de vendas e devolver os sapatos retornados


Benefícios para a Loja:
Diminuição da reclamação dos consumidores sobre o departamento de sapatos
O estoque foi reorganizado de um modo sequencial, criando um local operacional para
toda a equipe
Aprimorar a satisfação dos consumidores e consequentemente aumentar as vendas


Portanto, aqui se encontra um modelo bastante ilustrativo de como se organiza o trabalho de EA desde o colhimento de informações sobre as habilidades de um PCD, até a busca por um posto de trabalho.


Ainda sobre a busca por postos de trabalho

Uma vez avaliadas, em entrevistas, as habilidades e o interesse de cada candidato ao trabalho, o EA sai em busca de empresas que ofereçam postos de trabalho com funções, ou “quebra de funções” compatíveis com tais interesses.

Por “quebra de função” entende-se ainda o deslocamento de parte das tarefas de um funcionário já contratado para um funcionário PCD para assim permitir o melhor aproveitamento de ambos. Um exemplo disso é quando uma as tarefas exigidas na função seja a dobra e armazenamento de caixas de papelão, o recorte da primeira página de revistas, etc. Muitas vezes, estas são atividades perfeitamente compatíveis com as habilidades de um PCD que poderá estar cumprindo com essa tarefa, enquanto libera o outro funcionário para outras de sua função. Entende-se que essa estratégia possa ser de interesse de uma empresa na exata medida em que agiliza sua produção e compõe seu quadro de funcionários com PCDs.



Contratações por hora trabalhada

Dentre suas orientações, o EA prevê contratações por hora trabalhada para que se possa otimizar o real potencial de cada PCD e assim garantir competitividade. Isso por que nem todo PCD é capaz de cumprir horário regulamentar de jornada e nem por isso está inapto ao trabalho, ou deixa de atender às demandas de uma empresa. As funções exigidas em contrato serão rigorosamente cumpridas, independente de carga horária estabelecida.

Acompanhamento e treinamento de um PDC no próprio local de trabalho.

Nesse caso, o EA prescinde de capacitação prévia, pois prevê o treinamento da cada PCD no próprio local de trabalho por um “Job maneger” (gerente de trabalho) e no modelo “one by one” (um por um). Isso implica dizer que cada cliente, e apenas um a cada período de trabalho, é acompanhado por um gerente de trabalho que terá por função o treinamento para o cumprimento das tarefas exigidas em contrato, além da intermediação da relação entre este e os colegas de trabalho e empregador. Essa estratégia também atende à intenção de não agrupá-los num mesmo local, para facilitar a inclusão nos seus respectivos ambientes de trabalho.

Assim descritas, essas são as bases de sustentação da metodologia do EA que, mundo à fora, tem permitido que pessoas com deficiência possam estar incluídas nos espaços socialmente compartilháveis de posse de uma das mais potentes insígnias de identificação de um cidadão em sociedade: a carteira de trabalho.

A propósito das experiências de reinserção de pacientes com transtornos mentais graves no mercado de trabalho, Erotildes Leal, no ‘1º Seminário de Trabalho e Geração de Renda: Construção de uma Rede (2002)’, apresenta-nos os quatro mais importantes modelos internacionais existentes: as experiências norte-americana, anglo-saxônica, francesa e italiana. Embora problematize cada uma delas em seus respectivos contextos, a autora aponta o modelo americano de ‘emprego apoiado’ (utilizado pelo PGT) como uma das experiências mais efetivas na ajuda às pessoas com transtornos graves para obter e manter empregos competitivos.

 *Este depoimento é baseado na minha experiência de trabalho junto à Academia Brasileira de Ciências (ABC/RJ, 2004/2006) e no treinamento em Suported Employment” realizado nos EUA (2005), conforme Certificado: ‘Certificate of Achievement: This award certifies that Ana Cecília Alvares Salis (CAM-R), has successfully completed eighty (80) hours of training on the rehabilitation of persons with disabilities, with a special emphasis on: Job Manager and Cuidadores. The training was provided as part of a Brazil – United States collaborative project sponsored by the Bureau of Educational and Cultural Affairs (U.S. Department of State (Grant # S-ECAPE-04-GR-116 (JY), July 17- 29, 2005.)

* Para mais informações sobre Emprego Apoiado consultar:

https://www.base-uk.org/what-supported-employment

http://www.citizensinformation.ie/en/employment/employment_and_disability/supported_employment_for_people_with_disabilities.html

https://en.wikipedia.org/wiki/Supported_employment

https://www.youtube.com/watch?v=YcAjdeBkal4

www.tendenciainclusiva.com.br/single-post/2015/03/01/EMPREGO-APOIADO

http://www.aneabrasil.org.br

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